Recuperação da América Latina no rumo certo, mas com crescimento fraco a longo prazo
13 de outubro de 2017
A atividade econômica na América Latina se mantém no rumo de uma recuperação gradual em 2017 e 2018, mas o crescimento a longo prazo continua em marcha lenta, retardando o progresso da região para alcançar os níveis de renda dos países avançados, segundo a mais recente atualização do FMI sobre as perspectivas econômicas regionais.
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Na atualização do relatório Perspectivas Econômicas Regionais: As Américas, o FMI elevou as previsões de crescimento para a América Latina e Caribe para 1,2% em 2017 e 1,9% em 2018. A conjuntura externa favorável está ajudando a recuperação. A demanda mundial está se aquecendo e o abrandamento das condições financeiras no mundo — com a baixa volatilidade nos mercados mundiais e a resiliência dos fluxos de entrada de capitais — está estimulando as condições financeiras internas.
Ao mesmo tempo, a inflação está caindo em muitos países à medida que diminuem os efeitos das depreciações anteriores da taxa de câmbio sobre os preços internos, algumas moedas se valorizam e a capacidade econômica ociosa (ou seja, a quantidade de mão de obra e de capital não utilizados) continua elevada. No plano regional, a inflação deverá cair para 4,2% em 2017 (de um pico de 6,2% em 2015) e estabilizar em cerca de 3,5% daí em diante.
Apesar da recuperação em curso, as perspectivas de forte crescimento a longo prazo na América Latina e Caribe parecem mais distantes. Nos próximos três a cinco anos, a América Latina deve crescer 1,7% em termos per capita. Essa taxa de crescimento é quase idêntica ao desempenho da região ao longo do último quarto de século e apenas marginalmente melhor que a das economias avançadas, gerando temores de que a região não esteja conseguindo alcançar os níveis de renda dos países avançados.
Mescla regional
Após chegar ao seu nível mais baixo em 2016, o crescimento na América do Sul está acelerando gradualmente, segundo o relatório. A Argentina está se recuperando da recessão do ano passado e deve crescer cerca de 2,5% em 2017 com a consolidação do investimento. Após entrar em território positivo no primeiro semestre de 2017, o crescimento no Brasil deve chegar a 0,7% neste ano e 1,5% em 2018. No Chile, o crescimento no primeiro semestre se manteve fraco, apesar da resiliência das despesas das famílias. Na Colômbia, a desaceleração econômica continua, em vista do choque permanente na renda das commodities e da reforma tributária. A economia da Venezuela está em contração pelo quarto ano consecutivo e caminha para a hiperinflação.
No México, a atividade econômica permaneceu sólida no primeiro semestre, apesar da incerteza sobre o futuro das relações comerciais com os Estados Unidos. Na América Central, a atividade econômica em termos agregados se mantém próxima do potencial.
As perspectivas econômicas para o Caribe estão melhorando de modo geral, mas as projeções de referência refletem os dados disponíveis antes da passagem dos furacões Harvey, Irma e Maria. Assim, não abrangem o impacto devastador desses furacões em vários países da região e o risco que representam para as perspectivas de crescimento.
Riscos
Entre os riscos internos e externos, figuram:
O risco político, relacionado à incerteza da orientação das políticas após as eleições que ocorrerão em diversos países;
- O risco humanitário, se a crise que se desenrola na Venezuela piorar;
- O risco financeiro, se as condições financeiras mundiais se tornarem mais apertadas;
- O risco econômico, se houver um ajuste abrupto na demanda da China.
- O retrocesso na integração econômica transfronteiriça e os desastres naturais e a mudança climática também representam riscos para as perspectivas de longo prazo da região.
Políticas prioritárias
Espaço orçamentário limitado. A dívida pública da região aumentou acima do nível médio dos mercados emergentes. Isso sugere que muitos países precisariam continuar a reduzir seus déficits para colocar suas finanças públicas numa trajetória sustentável.
Mais apoio da política monetária. Como a inflação e as expectativas inflacionárias têm diminuído e estão dentro ou abaixo das metas em muitos países, os bancos centrais têm cortado as taxas de juros de referência. A política monetária pode continuar a apoiar mais a economia, sobretudo em vista do limitado espaço fiscal e da capacidade econômica ainda ociosa.
Aumento da renda. Os países precisam levar à frente as reformas estruturais tão necessárias para assegurar um crescimento sustentável e inclusivo. Entre as prioridades, se destacam: reduzir o déficit de infraestrutura, aumentar a participação das mulheres na força de trabalho onde ela ainda é baixa, reduzir a informalidade do mercado de trabalho, investir em capital humano para assegurar acesso amplo a educação de alta qualidade, melhorar a governança e combater a corrupção, e promover o comércio regional e a integração financeira.