Relatório Sobre a Estabilidade Financeira Mundial

Uma ponte para a recuperação: Relatório sobre a Estabilidade Financeira Mundial – Outubro 2020

outubro de 2020

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Capítulo 1: Resumo analítico



Os riscos para a estabilidade financeira mundial a curto prazo por ora estão contidos. A reação oportuna e sem precedentes da política econômica ajudou a manter o fluxo de crédito à economia e criou uma ponte para a recuperação, evitando uma cadeia de reações macrofinanceiras negativas.

Contudo, as vulnerabilidades estão aumentando, o que eleva a preocupação com a estabilidade financeira em alguns países. As vulnerabilidades aumentaram no setor corporativo não financeiro, com as empresas a assumir mais dívidas para suprir a escassez de caixa, e no setor soberano, em que o apoio à economia levou à expansão dos déficits fiscais.

Com o desenrolar da crise, as pressões sobre a liquidez das empresas podem se transformar em insolvências, sobretudo se a recuperação for demorada. As pequenas e médias empresas são mais vulneráveis que as grandes empresas com acesso aos mercados de capitais. A trajetória futura das inadimplências será determinada, em última instância, pela extensão do apoio contínuo da política econômica e pelo ritmo de recuperação, que deve variar entre os diferentes setores e países.

O sistema bancário internacional está bem capitalizado, mas a posição de alguns bancos é frágil e alguns sistemas bancários podem registrar déficits agregados de capital no cenário adverso do World Economic Outlook de outubro de 2020, mesmo com as medidas de política econômica atualmente em vigor.

Algumas economias de mercados emergentes e de fronteira enfrentam dificuldades financeiras, o que pode levar algumas delas a uma situação de sobre-endividamento ou gerar um quadro de instabilidade financeira que talvez exija apoio oficial.

À medida que as economias reabrem, as políticas acomodatícias serão essenciais para assegurar que a recuperação se consolide e se torne sustentável, como mostra o Roteiro de Políticas a seguir. A agenda de reforma financeira pós-pandemia deve se concentrar no fortalecimento do quadro regulatório do setor financeiro não bancário e no reforço da supervisão prudencial para conter a tomada de riscos excessivos num ambiente de juros mais baixos por mais tempo.

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Capítulo 2: Mercados emergentes e de fronteira: Um conjunto mais amplo de políticas para restaurar a estabilidade

Para atenuar a pressão nos mercados locais de títulos e de câmbio, os bancos centrais de muitas economias emergentes recorreram a intervenções cambiais e, pela primeira vez, a compras de ativos.

Esta edição do Relatório sobre a Estabilidade Financeira Mundial (GFSR) apresenta um novo índice de tensão local (local stress index – LSI) para medir a tensão nos mercados locais de títulos e de câmbio.

Os programas de compras de ativos ajudaram a baixar os rendimentos dos títulos públicos, não provocaram uma depreciação do câmbio e, em última análise, reduziram a tensão no mercado. É possível que as compras de ativos ainda tenham um papel a cumprir no futuro, mas também é preciso avaliar continuamente os riscos.

As estratégias para lidar com o sobre-endividamento nos mercados de fronteira devem levar em conta o impacto que o tratamento esperado dos diferentes credores em futuras reestruturações da dívida terá sobre a percepção de risco por parte dos investidores.

Um conjunto mais amplo de políticas para restaurar a estabilidade

A pandemia desferiu um duro golpe nas economias emergentes e de mercados de fronteira, mas a reação das políticas públicas foi igualmente vigorosa. As autoridades tomaram medidas para atenuar o impacto na atividade econômica, flexibilizar as condições financeiras e reduzir a tensão nos mercados internos. Pela primeira vez, os bancos centrais de muitos mercados emergentes lançaram programas de compras de ativos para apoiar o bom funcionamento dos mercados financeiros e o conjunto da economia. As compras de ativos têm sido eficazes em reduzir os rendimentos dos títulos públicos e não contribuíram para a depreciação da moeda, mas parecem ter demorado mais para diminuir a tensão mais geral nos mercados internos de títulos. Este capítulo examina a eficácia dessas medidas de política econômica não convencional e conclui que as compras de ativos, quando acompanhadas por um quadro crível de política monetária e boa governança, podem ser um complemento útil ao conjunto de políticas dos bancos centrais nas economias de mercados emergentes e de fronteira, embora seja necessária uma avaliação minuciosa e constante dos riscos associados, sobretudo em se tratando de programas sem duração definida. Nas economias de mercados de fronteira, a política econômica tem se concentrado em enfrentar os efeitos da pandemia enquanto lida com o endividamento elevado. Este capítulo examina o possível impacto na percepção do risco soberano pelos investidores em função do tratamento esperado de diferentes classes de credores em futuras reestruturações da dívida.

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Capítulo 3: Funding corporativo: Dificuldades de liquidez atenuadas por um poderoso conjunto de políticas públicas

A pandemia da COVID-19 teve um impacto adverso nos fluxos de caixa do setor corporativo não financeiro, gerando pressões de liquidez e de solvência. Nas economias do G7, a concessão de crédito aumentou acentuadamente em março e no segundo trimestre de 2020, graças ao uso de linhas de crédito e ao apoio sem precedentes de políticas públicas. Com isso, as empresas conseguiram acumular reservas financeiras para lidar com um período de fluxo de caixa reduzido e de alta incerteza. Nos Estados Unidos, o mercado de títulos está aquecido desde o final de março, mas as condições de oferta de crédito para empréstimos bancários e para o mercado de empréstimos sindicados ficaram mais restritivas. Em outras economias do G7, as condições de oferta de crédito ficaram um pouco mais distendidas nos mercados no segundo trimestre. Entre as empresas cotadas em bolsa, as entidades com posições de solvência ou liquidez mais fracas antes do surto de COVID-19, assim como as empresas menores, sofreram uma pressão financeira relativamente maior em algumas economias nos estágios iniciais da crise. No entanto, sinais residuais de dificuldades financeiras permaneceram até o final de junho, quando empresas francesas, britânicas e norte-americanas com vulnerabilidades de liquidez anteriores à crise da COVID-19 tiveram fraco desempenho nas bolsas, variando entre 4 e 10 pontos percentuais. As intervenções de políticas públicas, especialmente aquelas direcionadas ao setor corporativo, tiveram, em geral, um efeito benéfico. Olhando para o futuro, a retirada prematura das políticas de apoio poderia pôr em risco o sucesso alcançado até agora no atendimento amplo das necessidades de financiamento do setor corporativo não financeiro.

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Capítulo 4: Capital bancário: As políticas em resposta aos desafios da covid-19

A crise da doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19) pode criar problema para o capital dos bancos, mesmo considerando que, no início da crise, seus índices de capital eram mais elevados do que antes da crise financeira mundial, e apesar das grandes intervenções de política econômica para conter as consequências econômicas da crise atual.

Simulações prospectivas baseadas em uma nova ferramenta de teste de tensão global mostram que, em um cenário de base coerente com o World Economic Outlook (WEO) de outubro de 2020, o capital bancário sofre uma queda acentuada mas se recupera rapidamente; em um cenário adverso, porém, os danos aos índices médios de capital são prolongados.

No cenário adverso, os bancos frágeis no extremo da distribuição, que correspondem a 9,3% dos ativos do sistema bancário, não cumpririam os requisitos regulatórios mínimos; o déficit de capital em relação aos limites legais e regulatórios totais seria superior a US$ 250 bilhões.

Na ausência das políticas de mitigação específicas ao setor bancário que já foram adotadas, os bancos frágeis no extremo da distribuição corresponderiam a 21% dos ativos do sistema bancário, e o déficit global de capital seria de US$ 480 bilhões.

As políticas de mitigação específicas ao setor bancário ajudariam a reduzir os riscos para a estabilidade financeira se a crise for superada rapidamente, mas podem gerar riscos para a adequação de capital dos bancos se a crise se prolongar.

Os bancos permanecerão bem capitalizados?

Os bancos estavam bem capitalizados no início da atual crise da COVID-19, com índices de capital mais elevados do que antes da crise financeira mundial, e as autoridades adotaram rapidamente uma série de políticas para apoiar a atividade econômica e a capacidade de crédito dos bancos. Contudo, a própria dimensão do choque e o provável aumento dos índices de inadimplência de empresas e famílias podem gerar desafios para a lucratividade e as posições de capital dos bancos. Uma simulação prospectiva da trajetória dos índices de capital em uma amostra de cerca de 350 bancos de 29 jurisdições, que representam 73% dos ativos bancários globais, mostra que os índices devem recuar em consequência da crise da COVID-19, mas, em média, permanecerão confortavelmente acima dos mínimos regulatórios. Contudo, há uma heterogeneidade entre as regiões e dentro delas, e bancos frágeis no extremo da distribuição, que representam 9,3% dos ativos bancários na amostra, talvez não consigam cumprir os requisitos mínimos de capital regulatório em um cenário adverso. As garantias públicas de empréstimos e outras políticas específicas ao setor bancário, que alteram o cálculo dos índices de capital, ajudam a atenuar o declínio dos índices de capital declarados e reduzem a incidência de déficits de capital bancário. Ao considerar a duração dessas e de outras medidas, as autoridades devem estar atentas aos trade-offs intertemporais que elas implicam, uma vez que políticas que reduzem os riscos para a estabilidade financeira em decorrência de choques transitórios podem aumentar as vulnerabilidades ligadas à capacidade de absorção de perdas pelos bancos e o nível geral de endividamento caso a crise se prolongue. As políticas que se destinam a limitar as distribuições de capital e assegurar o financiamento adequado dos programas de garantia de depósitos, assim como os planos de contingências que definem como reagir a possíveis pressões, ajudariam a lidar com as consequências de um cenário potencialmente adverso.

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Capítulo 5: Sustentabilidade corporativa: O desempenho ambiental das empresas e a crise da COVID-19

A paralisação da atividade econômica em função da crise da COVID-19 resultou em um declínio temporário nas emissões globais de carbono, porém o impacto de longo prazo da pandemia na transição para uma economia de baixa emissão de carbono ainda é incerto. Embora as consequências econômicas da crise possam restringir a capacidade das empresas de investir em projetos verdes, desacelerando assim a transição, a crise da COVID-19 também pode induzir a uma mudança estrutural nas preferências de consumidores e investidores por produtos que respeitem o meio ambiente, proporcionando uma oportunidade para introduzir políticas de mitigação que ajudem a diversificar a produção, reduzindo a dependência dos combustíveis fósseis. Ao analisar episódios anteriores de estresse financeiro e econômico, este capítulo conclui que restrições financeiras mais severas e condições econômicas adversas em geral prejudicam o desempenho ambiental das empresas, reduzindo seus investimentos verdes e comprometendo seus avanços por vários anos. Isso sugere que a crise da COVID-19 poderia potencialmente retardar a transição para uma economia de baixa emissão de carbono. À luz da necessidade urgente de reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa, destaca-se também a importância das políticas climáticas e dos pacotes de investimentos ambientalmente responsáveis para apoiar uma recuperação verde e a transição energética. Políticas destinadas a promover finanças sustentáveis, como o aumento da transparência e da padronização, podem ajudar ainda mais a mobilizar investimentos verdes e aliviar as restrições financeiras das empresas.