Kristalina Georgieva, Diretora-Geral do FMI, exorta os líderes do G-20 a dar resposta às perspectivas mundiais “excepcionalmente incertas”

17 de julho de 2022

Bali, Indonésia – 16 de julho de 2022. Kristalina Georgieva, Diretora-Geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), fez hoje a seguinte declaração ao término da reunião híbrida dos ministros das finanças e governadores dos bancos centrais do G-20:

“Gostaria de agradecer ao governo da Indonésia pela sua hospitalidade e à Ministra das Finanças Sri Mulyani Indrawati e ao Governador Perry Warjiyo pela sábia condução das reuniões do G-20 em meio a um cenário internacional com desafios crescentes. 

Eu queria que as perspectivas para a economia mundial fossem tão brilhantes quanto o céu de Bali; infelizmente, não são. O panorama se tornou bastante sombrio, e as incertezas são excepcionalmente elevadas. Os risco de deterioração da conjuntura, sobre os quais o FMI já havia alertado, agora se materializaram. 

A guerra na Ucrânia se intensificou, agravando as pressões sobre os preços das commodities e dos alimentos. A restritividade das condições financeiras mundiais é maior do que prevíamos. A atividade econômica sente o peso das perturbações prolongadas causadas pela pandemia e de novos gargalos nas cadeias de suprimento mundiais.

Em consequência, nossa atualização do World Economic Outlook no fim deste mês trará um prognóstico de novo recuo do crescimento mundial em 2022 e 2023. Ademais, os riscos de baixa devem continuar e talvez se agravar – em especial se a inflação for mais persistente – o que exigirá intervenções ainda mais incisivas de políticas, que podem afetar o crescimento e exacerbar as repercussões, sobretudo para os países emergentes e em desenvolvimento. Países com altos níveis de endividamento e espaço limitado para a aplicação de políticas enfrentarão pressões adicionais. Os eventos recentes no Sri Lanka são um sinal de alerta.

Os países emergentes e em desenvolvimento têm também enfrentando saídas contínuas de capital por quatro meses seguidos. Correm agora o risco de perderem três décadas de progressos rumo à convergência com as economias avançadas e ficarem ainda mais para trás.

Como podemos navegar por essa conjuntura extraordinariamente desafiante? Vejo três prioridades:

Primeiro, os países precisam fazer tudo o que estiver ao seu alcance para baixar a inflação. Do contrário, podem pôr em risco a recuperação, com grandes prejuízos para os padrões de vida dos mais vulneráveis. A boa notícia é que os bancos centrais estão intensificando suas ações. A política monetária está cada vez mais sincronizada: mais de três quartos dos bancos centrais elevaram as taxas de juros, e o fizeram 3,8 vezes. A independência dos bancos centrais é fundamental para o êxito dessas medidas de política, assim como a comunicação clara e uma abordagem guiada pelos dados.

Segundo, a política fiscal precisa ajudar, e não dificultar, os esforços dos bancos centrais para conter a inflação. Trata-se de uma tarefa complexa. Com a desaceleração do crescimento, algumas pessoas precisarão de mais apoio, não menos. Assim, a política fiscal terá de reduzir a dívida mas também prestar apoio direcionado às famílias vulneráveis que enfrentam repetidos choques, em especial aqueles ligados à alta dos preços dos alimentos e energia. 

Terceiro, um novo impulso à cooperação internacional será fundamental para fazer face às múltiplas crises que o mundo enfrenta. Precisamos da liderança do G-20 principalmente para abordar os riscos decorrentes da insegurança alimentar e da dívida elevada. Neste ponto, considero positivo o foco dado à questão da segurança alimentar durante estas reuniões. A insegurança alimentar significa milhões de pessoas assoladas pela fome. Mas é um problema que tem solução. Em conjunto com os dirigentes da FAO, do Banco Mundial, do PAM e da OMC, o FMI está exortando a comunidade internacional a unir forças e intensificar sua atuação para apoiar aqueles com necessidades imediatas, eliminar as restrições à exportação, promover a produção de alimentos e investir na agricultura resiliente ao clima.

É igualmente necessária a forte liderança internacional para solucionar o flagelo da dívida elevada, que alcançou os níveis mais altos já vistos em muitos anos. Mais de 30% dos países emergentes e em desenvolvimento estão superendividados ou próximas dessa situação. Para os países de baixa renda, essa cifra é de 60%. E com o endurecimento das condições financeiras e as depreciações cambiais, o serviço da dívida é um fardo pesado e, para alguns países, insustentável.

Nessas circunstâncias, é  de suprema importância que o Quadro Comum do G-20 cumpra suas promessas. É encorajador saber que os três comitês de credores para o Chade, a Etiópia e a Zâmbia estão se reunindo esta semana. Precisamos de resultados. O mundo todo está na expectativa.

É preciso definir novas regras e cronogramas para o quadro comum. E é importante ampliar sua cobertura além dos países que participam da iniciativa DSSI. Exorto o G-20 a unir forças para encontrar soluções imediatas. A situação da dívida está se deteriorando rapidamente, e é preciso adotar um mecanismo funcional para a resolução da dívida. 

Em termos mais amplos, o G-20 é uma peça-chave para dar novo impulso aos esforços coletivos para cumprir as ambições comuns no plano internacional. Uma delas é avançar na canalização de DES para amplificar os efeitos da alocação recente de DES pelo FMI no montante de US$ 650 bilhões.

Sou grata pela liderança do G-20 no apoio à criação do mais novo instrumento do FMI, o Fundo Fiduciário para a Resiliência e Sustentabilidade (RST, na sigla inglesa), que conta com quase US$ 40 bilhões em recursos prometidos. Agora é o momento de transformar essas promessas em contribuições reais, para que o novo Fundo esteja em operação até as Reuniões Anuais de outubro. A necessidade de apoiar nossos países membros vulneráveis para abordar desafios estruturais de longa data, principalmente aqueles ligados às mudanças climáticas e à pandemia, é mais urgente do que nunca.    

Gostaria também de agradecer aos membros do G-20 que já se comprometeram a contribuir com quase 8 bilhões de DES (US$ 10,5 bilhões) em recursos para empréstimos do FMI no âmbito do Fundo Fiduciário para a Redução da Pobreza e o Crescimento, o que equivale a cerca de três quartos dos recursos necessários. Estou confiante que novos compromissos serão firmados em breve para suprir esses recursos. 

Por último, não podemos perder de vista a maior crise de todas: as mudanças climáticas. É essencial ampliar os recursos financeiros dedicados à transição climática, bem como contar com sinais inequívocos dos governos nacionais em relação a políticas para descarbonizar suas economias. A queda dos preços dos produtos energéticos dará aos países uma oportunidade de acelerar a precificação do carbono ou medidas equivalentes.

O FMI continuará a apoiar o G-20 nessa e noutras prioridades. Aguardo com expectativa nossa próxima reunião em outubro.”

Departamento de Comunicação do FMI
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