Pedestres e ciclistas na Avenida Paulista em São Paulo: a atividade         econômica na região se recuperou em 2017, mas são necessárias reformas         para manter esse impulso positivo (foto: Luciano Marques/iStock)

Pedestres e ciclistas na Avenida Paulista em São Paulo: a atividade econômica na região se recuperou em 2017, mas são necessárias reformas para manter esse impulso positivo (foto: Luciano Marques/iStock)

América Latina e Caribe: Aproveitar o ímpeto

11 de maio de 2018

As economias da América Latina e Caribe estão voltando a crescer, graças ao aquecimento da demanda interna e a uma conjuntura mundial favorável, beneficiada pela recuperação dos preços das commodities. Mas para garantir um crescimento mais duradouro, com benefícios generalizados, a região precisa investir mais em setores fundamentais como infraestrutura e educação para elevar a produtividade a mais longo prazo, aponta o FMI na sua mais recente avaliação da economia regional.

Recuperação econômica mais forte

O relatório Perspectivas Econômicas: As Américas estima que o crescimento da região deve aumentar de 1,3% em 2017 para 2% em 2018. Para 2019, o relatório prevê que o crescimento continue em alta, chegando a 2,8%.

Após a recuperação do consumo privado em 2017, a previsão é que o investimento das empresas aumente e se transforme no principal motor da atividade econômica, depois de três anos de contração. Apesar dessa retomada, os investimentos devem permanecer abaixo dos níveis observados em outras regiões, o que limita o potencial de crescimento da região, segundo o relatório.

 

Um futuro incerto

Mas a região ainda tem muitos desafios pela frente. De acordo com o relatório, a recente recuperação da economia poderia ser prejudicada por fatores não econômicos, como a incerteza política por causa das próximas eleições em vários países, tensões geopolíticas e eventos climáticos extremos.

O aumento dos riscos econômicos externos — em especial, a adoção de políticas mais protecionistas e um súbito aperto das condições financeiras mundiais — também poderia pressionar as perspectivas de crescimento.

Nos próximos anos, as perspectivas de crescimento de longo prazo para a América Latina e Caribe permanecem moderadas, o que indica que esses países estão encontrando dificuldades para se aproximar dos níveis de renda das economias avançadas.

O caminho a percorrer

Apesar dos recentes avanços na redução da pobreza e da desigualdade, a América Latina e Caribe continua a ser a região mais desigual do mundo. Em resposta a esses desafios e no intuito de garantir um crescimento duradouro que beneficie a todos, as autoridades da região precisarão implementar reformas e políticas fundamentais que se concentrem em:

· Continuar a se ajustar para manter os coeficientes de endividamento em uma trajetória sustentável, com atenção especial para a qualidade do ajuste

· Melhorar ainda mais a comunicação e a transparência do banco central para lidar melhor com futuros choques

· Investir mais nas pessoas por meio de gastos mais eficientes em educação

· Melhorar a infraestrutura, o que também estimularia outros investimentos na região

· Combater a corrupção ao melhorar a governança e o clima de negócios

· Intensificar a abertura ao comércio e aos mercados financeiros, o que pode ser visto como um passo rumo a uma maior integração mundial

· Preservar os ganhos obtidos com os gastos sociais.

Resumo regional

O crescimento na América do Sul está sendo impulsionado pelo fim da recessão na Argentina, no Brasil e no Equador, pela elevação dos preços das commodities e pela inflação moderada, que abriu espaço para a flexibilização da política monetária.

No curto prazo, o México, a América Central e partes do Caribe irão se beneficiar do crescimento mais forte nos Estados Unidos. No entanto, as possíveis implicações da reforma tributária nos EUA e as renegociações em andamento do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) também estão gerando incertezas na região.

 
 
 
 
 
 
 
 

 

Na Argentina, a previsão atual é de crescimento do PIB real de 2% em 2018. Os indicadores de alta frequência apontam que a atividade econômica permaneceu robusta no início de 2018, mas a grave seca que atingiu o país terá um impacto negativo na produção agrícola e nas exportações. A previsão é que o impacto negativo da seca seja revertido no próximo ano.

No Brasil, o PIB real deve crescer 2,3% em 2018 graças às condições externas favoráveis e à recuperação do consumo e investimento privados. A retomada da atividade levará a uma deterioração moderada da conta corrente. Um risco importante, porém, é que a agenda de políticas possa mudar após a eleição presidencial de outubro, gerando volatilidade nos mercados e aumentando a incerteza sobre as perspectivas de médio prazo.

No Chile, após uma desaceleração prolongada, a atividade econômica está ganhando ímpeto em virtude da melhoria das condições externas e do sentimento interno. O motor da recuperação são as exportações, tanto do setor de mineração como de outros setores, bem como o investimento das empresas, apoiado pelos gastos das famílias e por um ligeiro abrandamento das condições financeiras.

Na Colômbia, políticas mais flexíveis e uma conjuntura mundial mais favorável irão elevar o crescimento para 2,7% em 2018. A demanda será apoiada por uma política fiscal ligeiramente expansionista, impulsionada pelo aumento dos gastos dos governos subnacionais, e pelos efeitos defasados da flexibilização da política monetária em 2017. O investimento deve aumentar fortemente graças a projetos de infraestrutura e no setor de petróleo e à reforma tributária de 2016.

O governo do Peru lançou mão de políticas macroeconômicas anticíclicas em resposta à desaceleração do crescimento econômico em 2017. A previsão é que essas políticas ajudem o crescimento econômico a se recuperar para cerca de 3,75% em 2018, mas persistem os riscos de deterioração associados à investigação da Odebrecht.

A situação econômica da Venezuela está se agravando, com uma forte contração da economia pelo quinto ano consecutivo. A economia deve se contrair mais 15% em 2018, após uma retração acumulada de 35% de 2014 a 2017. A crise humanitária também está se intensificando: cresce a escassez de produtos básicos (alimentos, itens de higiene pessoal, medicamentos), o sistema de saúde está em colapso e as taxas de criminalidade estão elevadas. Esse quadro provocou um aumento acentuado da emigração para países vizinhos.

As perspectivas para a América Central, o Panamá e a República Dominicana permanecem favoráveis, e a previsão para 2018 é que o crescimento continue acima do seu potencial em muitos países, o que reflete o ímpeto do crescimento nos EUA e no mundo.

As projeções indicam que o México deve se beneficiar da aceleração do crescimento nos Estados Unidos e do fortalecimento da demanda interna, tão logo diminua a incerteza sobre o resultado das renegociações do NAFTA, as possíveis implicações da reforma tributária nos EUA e as eleições presidenciais no país em de julho. O crescimento do produto deve acelerar de 2% em 2017 para 2,3% em 2018, apoiado pelas remessas e exportações líquidas.

As perspectivas para a região do Caribe estão melhorando, e o crescimento das economias dependentes do turismo e dos países exportadores de commodities deve ficar entre 1% e 2% em 2018 e 2019.


*Esse relatório e suas projeções se baseiam no cenário prevalecente até início de Março de 2018. Ele portanto não reflete os últimos acontencimentos nos mercados financeiros da América Latina.
Exibir comentários

Deixe seus comentários

Os comentários são moderados e serão publicados após serem analisados.