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América Latina precisa romper o ciclo vicioso de violência e baixo crescimento

O crime custa diretamente à região mais de 3% do PIB e reduz o crescimento. A instabilidade econômica, por sua vez, impulsiona taxas mais altas de criminalidade. É possível tomar medidas para romper esse ciclo.

O crime e a insegurança têm um impacto desproporcional na América Latina e no Caribe, com graves consequências para o desenvolvimento socioeconômico. Apesar de representar apenas 8% da população mundial, a região tem quase um terço dos homicídios globais. Esses e outros dados alarmantes destacam a necessidade urgente de estratégias abrangentes para enfrentar os efeitos mais profundos da violência.

Relatórios recentes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do FMI mostram como o crime, a insegurança e o baixo crescimento se reforçam mutuamente em um ciclo vicioso que sufoca investimentos, reduz o turismo e acelera a emigração. A instabilidade macroeconômica—recessões, picos de inflação e aumento da desigualdade—está associada ao aumento da violência. A disponibilidade de armas de fogo e o crime organizado amplificam esses efeitos, enfraquecendo as instituições e o estado de direito.

Quantificando os Custos do Crime

Um estudo recente do BID quantifica as perdas diretas, estimando que o crime e a violência custam à região 3,4% do PIB anualmente. Esses custos incluem perdas de produtividade devido a pessoas mortas, feridas e encarceradas; despesas do setor privado com segurança; e gastos públicos com polícia, justiça e prisões. Isso equivale a 80% dos orçamentos públicos de educação da região e ao dobro dos gastos com assistência social.

Mas o impacto não para por aí. O crime desencoraja investimentos, reduz o turismo e impulsiona a emigração, enfraquecendo ainda mais a resiliência econômica e limitando o crescimento futuro da região. Uma pesquisa do FMI mostra que o crime prejudica a inovação e reduz a produtividade das empresas, agravando a estagnação econômica ao longo do tempo. Usando dados geolocalizados de iluminação noturna, o estudo conclui que reduzir pela metade as taxas de homicídio em municípios violentos poderia aumentar sua atividade econômica em até 30%. Em nível regional, como mostra um estudo do FMI publicado ano passado, reduzir as taxas de homicídio para a média global poderia aumentar o crescimento anual do PIB da América Latina e do Caribe em 0,5 ponto percentual.

Por outro lado, a instabilidade macroeconômica frequentemente alimenta picos de violência: uma recessão na região está associada a um aumento de 6% nos homicídios, enquanto picos de inflação acima de 10% estão ligados a um aumento de 10% nos homicídios no ano seguinte. O aumento da desigualdade agrava ainda mais o vínculo entre a estagnação econômica e o crime.

Como as políticas públicas podem ajudar?

Romper esse círculo vicioso exige uma compreensão mais profunda de suas causas e impactos. Pesquisas rigorosas e melhores dados são essenciais para desenhar políticas públicas que reduzam efetivamente o crime. Instituições como o BID e o FMI podem gerar evidências, monitorar dinâmicas do crime, aconselhar países membros e facilitar discussões. Dada a relevância macroeconômica do tema na região, as instituições reuniram pesquisadores e experts de várias áreas em uma conferência conjunta há algumas semanas, que teve debates encorajadores.

Primeiro, uma política econômica sólida desempenha um papel preventivo. Estabilidade, baixa inflação, redes de proteção social robustas e oportunidades que reduzam a desigualdade e ampliem o acesso à educação e ao emprego são fundamentais para romper o ciclo de violência e estagnação. Autoridades financeiras têm uma posição privilegiada para enfraquecer redes criminosas e atividades ilícitas, restringir fluxos financeiros e combater a lavagem de dinheiro, cortando os recursos que sustentam o crime organizado.

Em segundo lugar, dado que o impacto do crime vai muito além dos custos econômicos diretos, a política econômica deve adotar um papel mais amplo, focando em grupos de alto risco, melhorando o monitoramento do crime e aprimorando a coordenação interinstitucional.

Intervenções eficazes podem trazer resultados transformadores. Com o apoio do FMI, a Jamaica implementou reformas que protegeram investimentos públicos e gastos sociais, ao mesmo tempo que reduziram pela metade a dívida entre 2012 e 2022. Intervenções comunitárias apoiadas pelo BID reduziram a violência de gangues em 68% nos bairros afetados.

A província de Rosário, na Argentina, implementou uma estratégia abrangente para combater o crime, incluindo controle territorial de bairros de alto risco pela Polícia Federal, sistemas prisionais mais rígidos para criminosos de alto perfil e processos coletivos contra grupos criminosos sob novas legislações, como a lei antimáfia. Esses esforços, juntamente com avanços em um código penal juvenil para impedir o recrutamento de menores por traficantes de drogas, levaram a uma redução de 65% nos homicídios em 11 meses. Em Honduras, reformas estratégicas de segurança contribuíram para uma queda de 14% na taxa de homicídios e um aumento de 8% na confiança pública na aplicação da lei.

Governos devem priorizar o uso eficaz dos recursos, dada a magnitude do desafio. O gasto público com segurança na região já é alto—cerca de 1,9% do PIB, ou 7,4% do gasto público total—e pode ser ainda maior em áreas onde as forças armadas e os governos subnacionais estão envolvidos. Ministros da Fazenda e autoridades fiscais precisam ter uma compreensão abrangente desses custos, incluindo polícia, tribunais, prisões e outras instituições relacionadas, para garantir que os recursos sejam alocados de forma eficiente em áreas de maior impacto. Também precisam monitorar esses gastos da mesma forma que supervisionam outras grandes rubricas orçamentárias, avaliando seu impacto e cobrando resultados.

Crime Transnacional Exige Cooperação Regional

Enfrentar o crime exclusivamente ao nível nacional não é suficiente. Grupos criminosos ignoram fronteiras, o que faz com que respostas apenas domésticas sejam ineficazes e fragmentadas. Para enfrentar esse desafio comum, os países devem colaborar mais estreitamente para desenvolver soluções mais robustas e coordenadas.

Reconhecendo a natureza transnacional do crime, a Aliança para Segurança, Justiça e Desenvolvimento do BID busca unir governos, sociedade civil e setor privado. Essa aliança visa não apenas fortalecer instituições e aprimorar a cooperação, mas também apoiar políticas públicas e mobilizar recursos para implementar soluções que combatam eficazmente o crime organizado e a violência - baseadas em evidências sólidas.

A colaboração regional é crucial para desmantelar as redes sofisticadas e interconectadas do crime organizado que minam o estado de direito e a estabilidade econômica. Ao fomentar esforços unificados, instituições como o FMI e o BID, juntamente com governos e sociedade civil, desempenham um papel fundamental nesse esforço.

Quando vidas estão em jogo, o impacto real dessas ações deve ser sentido no dia a dia— com mais segurança nas ruas, mais esperança nas comunidades, e oferecendo às pessoas uma chance real de prosperar economicamente em um futuro livre de violência.