Desde março de 2020, os governos gastaram US$ 16 trilhões para fornecer apoio fiscal em meio à pandemia, e os bancos centrais em todo o mundo expandiram seus balanços num total de US$ 7,5 trilhões. Os déficits atuais são os maiores desde a Segunda Guerra Mundial, e os bancos centrais proporcionaram mais liquidez em 2020 do que nos 10 anos anteriores. Foram medidas absolutamente necessárias: estudos do FMI indicam que se as autoridades não tivessem agido, a recessão do ano passado – a pior em tempos de paz desde a Grande Depressão – teria sido três vezes mais grave.
Foi esse nosso caminho até aqui, mas para onde estamos indo? Nos próximos meses, à medida que mais vacinas forem produzidas, mais pessoas recebam suas doses e mais economias reabram gradativamente, as autoridades terão que empreender uma mudança fundamental, passando do salvamento de economias à beira do colapso para a realização de reformas pró-crescimento que fortaleçam suas economias para o futuro.
Sabemos que algumas reformas orientadas para o crescimento foram adiadas, quando não revertidas, com algumas sequelas econômicas. Por causa da COVID-19, o produto mundial sofreu uma perda de US$ 15 trilhões em comparação às projeções do FMI de janeiro de 2020. A mesma energia que está sendo dirigida à vacinação e aos planos de gastos para a retomada precisa ser dedicada às medidas em prol do crescimento para recuperar a perda do produto.
O reforço dos mecanismos de reestruturação da dívida deve ajudar a agilizar a resolução de empresas inviáveis e canalizar investimentos para novas ideias e empreendimentos. Políticas mais ativas no mercado de trabalho, como o acompanhamento e o apoio à busca de empregos e a requalificação profissional, devem ajudar os trabalhadores a migrar para empregos em segmentos dinâmicos da economia. Melhorias nas políticas de concorrência – um tema que está sendo muito debatido agora mesmo na Europa e nos Estados Unidos – e a redução das barreiras de entrada em setores fossilizados devem desobstruir o acesso a empresas que se mantinham fora do alcance das autoridades de outrora.
Rumo a um futuro melhor
Tirar proveito deste momento para realizar algumas destas reformas difíceis significa que o estímulo monetário e fiscal que ainda está a circular servirá de trampolim para um futuro melhor e mais sustentável, em vez de uma muleta para uma versão anêmica da economia pré-COVID-19. Aproveitar esta oportunidade pode render vários anos de sólido crescimento e melhor qualidade de vida após a pandemia. O FMI estima que reformas abrangentes favoráveis ao crescimento nos mercados de produtos, de trabalho e financeiros poderiam elevar o crescimento anual do PIB per capita das economias de mercados emergentes e em desenvolvimento em mais de um ponto percentual na próxima década. Assim, esses países conseguiriam dobrar o ritmo de convergência para os padrões de vida das economias avançadas em relação aos anos anteriores à pandemia.
Nas economias avançadas, o impulso dado por reformas favoráveis ao crescimento ajudaria a quitar as dívidas incorridas para oferecer níveis sem precedentes de apoio econômico, o que ampliaria o espaço para investimentos críticos e reduziria a necessidade de elevar os impostos. Como a inflação está acima das previsões e não se sabe ao certo quando os fatores que a alimentam perderão ímpeto, as reformas pró‑crescimento centradas no lado da oferta proporcionarão um seguro contra riscos inflacionários persistentes em razão de pressões do lado da demanda nos Estados Unidos e em outros países.
Nas economias de mercados emergentes que conseguiram manter seu acesso aos mercados internacionais de capitais, as reformas podem fortalecer os fundamentos econômicos e a confiança dos investidores, mesmo diante de condições financeiras mais restritivas, sobretudo se a inflação persistir nas economias avançadas. Para os países de baixa renda que esgotaram seu espaço fiscal, as reformas orientadas para o crescimento podem render benefícios suficientes para evitar duras medidas de austeridade, para que possam proteger os gastos sociais e de saúde a curto prazo e estimular sua capacidade de investir no seu capital humano a longo prazo.
Não é preciso fazer tudo de uma vez. Para a maioria dos países, a recuperação após a crise levará alguns anos. Inspirar a próxima geração a reconstruir um futuro melhor é o maior desafio desta geração de decisores políticos. Devem aceitar este desafio, tomando medidas arrojadas agora que a crise atinge um ponto de inflexão. Ao combinar reformas que estimulem o crescimento com gastos voltados para a recuperação, produziremos a prosperidade que prometemos aos nossos cidadãos e traçaremos nosso próprio destino no mundo pós-COVID-19.
Correção: Este blog foi atualizado para indicar que o total de perdas acumuladas do produto foi de US$ 15 trilhões no período 2020-24 em relação às projeções anteriores à pandemia.
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Geoffrey W.S. Okamoto foi nomeado Primeiro Subdiretor-Geral do Fundo Monetário Internacional em 12 de março de 2020 e assumiu o posto em 19 de março de 2020.
Antes de ingressar no FMI, Okamoto foi subsecretário interino de Finanças Internacionais e Desenvolvimento no Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.