(foto: golero by Getty Images) (foto: golero by Getty Images)

Há um ano, o mundo mudou. Embora o efeito da pandemia sobre os trabalhadores tenha variado no mundo todo, a nova realidade desorganizou a vida de muitas mães. Com escolas e creches fechadas, muitas foram forçadas a deixar o emprego ou reduzir as horas de trabalho. Novas estimativas do FMI confimam o impacto desproporcional sobre as mães trabalhadoras e sobre a economia como um todo. Em suma, no mundo do trabalho, as mulheres com filhos pequenos estão entre as maiores vítimas dos lockdowns econômicos.

Três países — Estados Unidos, Reino Unido e Espanha — ilustram o impacto variado da pandemia sobre os trabalhadores. Esses três países figuram entre os atingidos mais duramente pelo vírus em todo o mundo, mas foram os Estados Unidos que perderam mais postos de trabalho. Em comparação, os trabalhadores do Reino Unido sofreram o maior corte na jornada de trabalho, enquanto na Espanha os trabalhadores enfrentaram uma mistura de perda de emprego e redução de horas.

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Essas diferenças foram especialmente pronunciadas nos primeiros meses da crise e se devem, em parte, a diferenças nas políticas públicas. Os Estados Unidos preferiram apoiar os trabalhadores desempregados ao elevar e prolongar o auxílio-desemprego, enquanto o Reino Unido e a Espanha optaram por adotar programas de manutenção do emprego para preservar os laços entre empregados e empregadores.

As mães sofreram o maior impacto

As experiências dos trabalhadores não diferem apenas entre os países, mas também entre os gêneros. Como indica o estudo do FMI , nos Estados Unidos, as mulheres foram mais afetadas do que os homens; no Reino Unido, ocorreu o contrário e, na Espanha, o impacto foi semelhante para homens e mulheres.

Apesar dessas diferenças, os três países têm algo em comum: as mães de crianças pequenas foram desproporcionalmente afetadas pelos confinamentos e pelas consequentes medidas de contenção. O fechamento das escolas e o início do ensino a distância aumentaram a responsabilidade dos pais e, sobretudo, das mães.

Em consequência, muitas mulheres — que já assumiam grande parte da responsabilidade pelo cuidado das crianças e pelas tarefas domésticas mesmo antes da pandemia — deixaram o emprego ou reduziram o número de horas de trabalho.

Um número maior de mulheres com filhos pequenos perdeu o emprego e/ou teve uma redução nas horas trabalhadas em comparação com outras mulheres e homens nos três países. Nos Estados Unidos, por exemplo, ser mãe de pelo menos uma criança menor de 12 anos reduziu em 3 pontos percentuais a probabilidade de estar empregada, em comparação com um homem em situação familiar semelhante entre abril e dezembro de 2020.

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Maiores desigualdades de gênero e de renda

Nosso estudo analisa em detalhes o mercado de trabalho nos Estados Unidos e constata que o peso sobre as mães com filhos pequenos representa 45% do aumento da disparidade geral entre os gêneros no emprego. Esse peso também causou uma perda econômica estimada em quase 0,4% do produto entre abril e novembro de 2020.

A pandemia pode acabar agravando não apenas a desigualdade de gênero, mas também a de renda. Um exame mais detido revela que as mães sem diploma universitário e as mães de cor foram demitidas ou deixaram o emprego em maior número durante os estágios iniciais da pandemia e estão voltando a trabalhar a um ritmo muito mais lento do que outros grupos de trabalhadores.

Apoio às mães

Em vista do impacto desproporcional dos confinamentos e medidas de contenção sobre as mães, em especial as mães com filhos pequenos, são necessárias medidas específicas para facilitar o retorno ao trabalho.

  1. Apoio financeiro: É crucial apoiar as mães que perderam o emprego e lutam para sobreviver e sustentar suas famílias. Para isso, podem ser tomadas medidas como créditos fiscais para famílias de baixa renda com filhos, a prorrogação dos benefícios aos desempregados e a assistência para o cuidado infantil.
  1. Creches e escolas: Os governos também devem acrescentar a reabertura das escolas à lista de prioridades da vacinação. A disponibilidade de creches é crucial para que as mães consigam participar do mercado de trabalho. Os governos devem priorizar a reabertura das escolas e creches e reduzir a probabilidade de novos fechamentos das escolas. Isso exige investimentos em infraestrutura e procedimentos para assegurar a reabertura segura e sustentável dos estabelecimentos de ensino.
  1. Políticas de realocação: É maior a probabilidade de as mães e, de modo geral, as mulheres terem empregos que exigem contato presencial. A Covid-19 destruiu desproporcionalmente esses empregos, alguns deles para sempre. Portanto, os governos devem apoiar os trabalhadores na busca de outros empregos e, ao mesmo tempo, minimizar a perda de capital humano, por meio de subsídios à contratação e programas de capacitação, inclusive na área de tecnologia.
  1. Acesso a finanças: Ampliar o acesso a serviços financeiros poderia ajudar muito as mulheres que querem iniciar ou manter um negócio. Para isso, é essencial aproveitar o potencial da tecnologia financeira para aumentar a inclusão financeira, sobretudo nos países em desenvolvimento. A igualdade de acesso à infraestrutura digital, como o acesso à cobertura móvel e à Internet — bem como a melhoria da educação financeira e digital — pode virar o jogo em favor das mulheres.

As mães vêm cumprindo um papel crucial durante a pandemia, cuidando dos filhos e absorvendo muitos dos custos associados às medidas de contenção adotadas para deter a propagação do vírus. As recomendações delineadas acima são ainda mais imperativas enquanto a economia mundial continua a lutar para se recuperar da pandemia. Mas a recuperação plena exige a reintegração total das mulheres à força de trabalho.

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Kristalina Georgieva

Stefania Fabrizio é Subchefe de Unidade no Departamento de Estratégia, Políticas e Avaliação do FMI. Antes de ingressar no FMI, foi professora visitante na Universidade de Salamanca, Espanha. Em seus estudos, aborda temas como macroeconomia, finanças públicas e instituições fiscais, e já se dedicou intensamente a questões de política ligadas às implicações distributivas das políticas e reformas macroeconômicas. É autora de estudos em importantes publicações econômicas. É doutora em Economia pelo Instituto Universitário Europeu.

Diego B. P. Gomes é economista do Departamento de Estratégia, Políticas e Avaliação do FMI. Anteriormente, trabalhou como professor na Alberta School of Business da Universidade de Alberta, no Canadá. É doutor em Economia pela Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE). Seus estudos têm como temas a macroeconomia, políticas públicas, o gênero, a desigualdade e o risco.

Marina M. Tavares é economista do Departamento de Estudos do Fundo Monetário Internacional (FMI). Anteriormente, foi economista do Departamento de Estratégia, Políticas e Avaliação e liderou o trabalho conjunto entre o FMI e o DFID sobre desigualdade. Antes de ingressar no FMI, trabalhou como professora assistente no Instituto Tecnológico Autônomo do México (ITAM). É doutora em Economia pela Universidade de Minnesota e mestre pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). Seus estudos têm como temas a macroeconomia, as finanças públicas, o gênero e a desigualdade.