Os fluxos internacionais de capital – que representam a movimentação de dinheiro através das fronteiras para fins de comércio ou investimento – são cruciais para o desenvolvimento econômico na América Latina. O motivo é que esses fluxos ajudam a trazer novas tecnologias e melhores práticas de gestão, além de complementar a escassa poupança interna para financiar o investimento.
No entanto, os países latino-americanos – assim como muitas economias de mercados emergentes – estão propensos a ciclos de expansão e retração, em que a entrada e a saída de fluxos de capital flutuantes e voláteis podem perturbar o desenvolvimento de negócios e o investimento e, assim, gerar custos econômicos substanciais.
Em um estudo produzido para a mais recente edição do relatório Perspectivas Econômicas: As Américas, concluímos que certas políticas podem ajudar os países a atenuar os custos e a duração de interrupções súbitas dos fluxos de capital.
Tendências recentes dos fluxos de capital
Na última década, os fluxos de capital líquidos (a diferença entre a entrada e a saída de capital) para a América Latina seguiram dinâmicas diferentes em comparação com os fluxos destinados a outras economias de mercados emergentes. Enquanto nestas últimas observou-se um declínio constante dos fluxos de capital líquidos como parcela do PIB desde 2007, o declínio foi bem menos acentuado na América Latina, apesar da volatilidade dos fluxos. Entre 2008 e 2018, os fluxos líquidos caíram menos de 1 ponto percentual do PIB na região, em comparação com mais de 4 pontos percentuais do PIB em outras economias de mercados emergentes.
Mudança na dinâmica
Com o fim do superciclo dos preços das commodities, outros fatores passaram a assumir maior importância como determinantes dos fluxos de capital na América Latina. Nossa análise revela que, nos últimos seis anos, os fluxos de capital para a região se tornaram mais sensíveis a variações na aversão global ao risco, nos diferenciais de crescimento em relação às economias avançadas e nas taxas de juros dos Estados Unidos. Essa mudança contrasta com as de outras economias de mercados emergentes, nas quais a sensibilidade dos fluxos aos diversos fatores determinantes permaneceu basicamente estável.
Nosso estudo sugere que os países da região têm maior probabilidade de vir a experimentar interrupções abruptas dos fluxos de capital no futuro se o crescimento econômico continuar a vacilar ou se houver um aperto súbito das condições financeiras mundiais. Além disso, os custos econômicos associados a interrupções abruptas dos fluxos de capital poderiam ser amplificados por vulnerabilidades internas, como grandes desequilíbrios fiscais.
Vulnerabilidade a interrupções abruptas
Embora certos fundamentos econômicos, como os níveis de dolarização de passivos (ou seja, níveis de dívida denominada em moeda estrangeira), os déficits fiscais e a dívida pública estejam atualmente mais fracos na maioria dos países latino‑americanos do que antes da interrupção súbita dos fluxos de capital em 2008-2009, essas vulnerabilidades permanecem sob controle de modo geral. Por quê? Porque a maioria dos países da América Latina conta com um volume de reservas suficiente em relação a suas necessidades de financiamento externo e exibe níveis moderados de dolarização de passivos. Isso ajuda a protegê-los de perturbações econômicas causadas pela volatilidade dos fluxos de capital.
Como reagir a uma interrupção abrupta?
Nossa análise mostra que certas políticas podem afetar a duração e os custos de interrupções abruptas dos fluxos de capital. Os regimes de câmbio flutuante reduzem drasticamente a duração de interrupções abruptas e as respectivas perdas do produto. Os efeitos são quantitativamente expressivos: um regime de câmbio flexível aumenta em pelo menos 60% a probabilidade de superar uma interrupção súbita em comparação com um regime de câmbio fixo.
Uma política monetária mais restritiva aparentemente também é útil: uma
elevação dos juros reais em 1 ponto percentual reduz em cerca de 5% a
duração de uma interrupção abrupta.
Esses resultados reforçam a opinião de que a flexibilidade cambial mitiga o impacto de choques externos e não corroboram a noção de que o aperto da política monetária durante crises é uma má ideia.