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O Reino Unido deve deixar a União Europeia (UE) em março de 2019. Umestudo do FMI sugere que todos os resultados prováveis do Brexit implicariam um custo econômico para o Reino Unido, e esses custos seriam distribuídos de maneira desigual entre os diferentes setores e regiões.
Como membro da UE, o Reino Unido desfruta de um acordo comercial sem atritos, na forma do mercado único e da união aduaneira que caracterizam esse bloco. Após sua saída da UE, as barreiras ao comércio de bens e serviços aumentariam, enquanto a mobilidade da mão de obra diminuiria.
Trata-se de um dado importante, porque a UE é o maior parceiro comercial do Reino Unido, respondendo por quase metade do seu comércio de bens e serviços. Por exemplo, 56% dos carros fabricados no Reino Unido são exportados para a UE e cerca de 25% dos serviços financeiros produzidos no Reino Unido estão relacionados a clientes da UE.
Uma fronteira sem atrito permitiu que as empresas do Reino Unido se especializassem em atividades nas quais elas têm uma vantagem comparativa e o maior valor agregado. Fazer parte da UE também estimulou o investimento direto estrangeiro, pois as empresas investiram no Reino Unido como base de acesso ao mercado único, enquanto a livre mobilidade da mão de obra permitiu ao Reino Unido contratar talentos de toda a UE.
Os custos dos diferentes desfechos do Brexit
Deixar a UE vai inevitavelmente reduzir ou eliminar alguns dos benefícios do comércio sem atrito. Nosso estudo estima o possível impacto do aumento das barreiras comerciais, da redução da migração e da queda dos fluxos de IDE para cada setor econômico no Reino Unido. A bem da simplicidade, pressupomos que as relações comerciais com os países fora da UE permanecerão inalteradas.
Uma vez que não se conhece ainda a natureza específica da nova relação econômica entre o Reino Unido e a UE, apresentamos estimativas do impacto econômico de longo prazo em dois cenários ilustrativos da relação pós-Brexit.
· No cenário “ALC”, presume-se que o Reino Unido e a UE cheguem a um acordo em torno de um amplo pacto de livre comércio, incluindo um acordo sobre o comércio de serviços, com algumas restrições à migração. Nesse cenário, a queda na produção do Reino Unido seria de cerca de 2,5% a 4% no longo prazo, em comparação com um cenário sem o Brexit. Isso se traduz em um custo de cerca de 900 a 1 300 libras per capita.
· No cenário “OMC”, o Reino Unido perde qualquer acesso preferencial ao mercado da UE e adota as pautas aduaneiras da OMC para o comércio de bens. Além disso, pressupõe-se um regime de migração ainda mais rigoroso. Nesse cenário, a queda da produção real em relação ao cenário sem o Brexit seria maior, entre 5% e 8% no longo prazo (cerca de 1 700 a 2 700 libras per capita). Essa estimativa leva em conta os efeitos do aumento das barreiras comerciais, possíveis quedas nos fluxos de investimento estrangeiro direto e redução da migração líquida.
O impacto econômico do acordo fechado na cúpula da UE em novembro de 2018 não foi modelado; no entanto, nosso cenário ALC se enquadra na gama dos resultados econômicos compatíveis com a Declaração Política.
O impacto do Brexit seria diferente em cada setor
· Os efeitos negativos seriam ainda mais pronunciados no caso de alguns setores de serviços. Por exemplo, a produção de serviços financeiros pode cair até 15% no cenário ALC. Isso reflete o fato de que cerca de 25% das receitas do setor financeiro nacional estão relacionadas com clientes da UE. As empresas talvez precisem instalar subsidiárias na UE para continuar a oferecer alguns desses serviços.
O que o Brexit significa para os empregos?
A disponibilidade de mão de obra em setores que dependem mais de trabalhadores migrantes, tanto os de pouca qualificação como os altamente qualificados, pode ser afetada por futuras mudanças na política de imigração.
O Brexit pode marcar o início de um longo período de desemprego estrutural mais alto, revertendo parte dos impressionantes aumentos no nível de emprego dos últimos anos, à medida que os trabalhadores deixem setores altamente afetados, mas migrem apenas gradativamente para setores e regiões menos afetados.
Políticas ativas para o mercado de trabalho, como a reciclagem e a assistência na recolocação profissional, serão fundamentais para facilitar a realocação de trabalhadores. É fundamental apoiar os trabalhadores e não setores ou empregos específicos. Facilitar a obtenção de crédito pelos empreendedores também permitiria às pessoas responder com flexibilidade à nova realidade econômica e aumentar sua produtividade. Os esforços para aumentar a oferta de moradia devem continuar a ajudar os trabalhadores a passar de regiões mais afetadas negativamente para áreas onde há mais empregos.
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Jiaqian Chen é economista do Departamento da Europa do FMI, onde se dedica à análise das perspectivas macroeconômicas do Reino Unido e questões relacionadas ao Brexit. Anteriormente, trabalhou com a Suécia, Dinamarca, Turquia e Israel e na análise de políticas monetárias e macroprudenciais no Departamento de Mercados Monetários e de Capitais do FMI. Seus estudos concentram-se na área de macrofinanças, com ênfase nas políticas macroprudenciais. É doutor em Economia pela London School of Economics.