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Este blog é dedicado à memória de Giang Ho, uma economista do FMI que faleceu subitamente em agosto passado. Seu empenho e inventividade foram cruciais para a execução deste trabalho analítico. Sentimos falta dela e nunca a esqueceremos.
Será que o Grupo dos Vinte (G-20) está próximo de cumprir sua meta de “crescimento vigoroso, sustentável, equilibrado e inclusivo”? A expansão mundial continua forte e, por isso, não é de surpreender que o relatório de 2018 do FMI tenha atribuído boas notas ao G-20 quanto às perspectivas de curto prazo. Em comparação ao relatório do ano passado, os hiatos do produto vêm se fechando (ou seja, o produto efetivo está mais próximo do potencial) e menos pessoas estão desempregadas, embora os riscos tenham aumentado. Ao mesmo tempo, o avanço rumo a um crescimento mais sustentável e equilibrado tem sido lento: persistem desequilíbrios externos (superávits e déficits), os níveis de endividamento continuam altos e o crescimento da produtividade permanece baixo. A inclusão, que é analisada pela primeira vez no relatório deste ano, continua a ser um desafio.
O crescimento inclusivo ainda não se materializou
O G-20 salientou que o crescimento inclusivo é uma das suas metas de política concretas, mas assegurar que o crescimento beneficie a todos é um aspecto que costuma ser considerado inerente à consecução do crescimento sustentável. Por exemplo, o apoio político às reformas estruturais é maior se os ganhos de renda resultantes forem mais amplamente distribuídos.
No entanto, após 1990, a desigualdade medida pelo coeficiente de Gini aumentou na maioria das economias do G-20, e permanece alta mesmo em algumas economias de mercados emergentes nas quais havia diminuído durante esse período (as áreas em vermelho no mapa mostram um aumento da desigualdade; as áreas em verde mostram uma queda). Por exemplo, a desigualdade diminuiu substancialmente em muitos países latino-americanos e na Turquia, mas permanece mais alta do que nos países europeus e norte-americanos do G-20, onde os níveis de desigualdade aumentaram no mesmo período.
De fato, as melhorias na renda continuaram sendo muito desiguais no período posterior à crise financeira: nas economias do G-20, os assalariados entre os 10% na base da distribuição de renda ganham, em média, apenas 8% do que recebem os 10% no topo. Essas desigualdades persistentes refletem e reforçam o acesso desigual às oportunidades econômicas, como educação, saúde e serviços financeiros.
As autoridades podem fazer a diferença
Se agirem agora e em conjunto, as economias do G-20 têm chance de sustentar um crescimento mundial robusto no médio prazo, torná-lo mais equilibrado e garantir que seus ganhos sejam distribuídos mais amplamente. Cumpre ressaltar que muitas das medidas que elevariam a produtividade no médio e longo prazo – que, estimamos, aumentariam o nível do PIB do G-20 em quase 4% – também tornariam o crescimento mais inclusivo.
O investimento em capital humano é um exemplo crucial. Investir para fortalecer a educação e a qualificação dos trabalhadores não apenas ajudará as economias do G-20 a se ajustar melhor ao avanço de novas tecnologias que podem alterar o “ futuro do trabalho ”, mas também garantirá que mais pessoas se beneficiem do progresso tecnológico. Também contribuirão para isso o aumento da inclusão financeira e o ajuste das redes de proteção social e dos sistemas de previdência para facilitar a mobilidade entre empregos, setores e fronteiras. Além disso, a redistribuição por meio de impostos e transferências continuará a ter uma função importante na busca por um crescimento mais inclusivo entre os membros do G-20.
Na nota de supervisão do G-20, a ser publicada em 27 de novembro, será delineado como as autoridades devem trabalhar, em paralelo e em conjunto, para conter os riscos, o que também ajudará a reduzir a desigualdade. Por exemplo, a redução das barreiras ao comércio de serviços promete não apenas moderar os riscos do excesso de desequilíbrios externos, reduzindo assim as tensões comerciais, mas também contribuirá para a elevação da renda. Em combinação com as políticas corretas para assegurar uma ampla distribuição do crescimento, isso ajudará o G‑20 a avançar rumo a sua meta de crescimento vigoroso, sustentável, equilibrado e inclusivo.
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Margaux MacDonaldé economista no Departamento de Estudos do FMI, onde trabalha na Divisão de Supervisão Multilateral. Anteriormente, no Departamento da África, trabalhou com países que mantinham programas com o FMI e em questões do setor externo. As suas áreas de estudo são macroeconomia e finanças internacionais, e seus trabalhos recentes se concentram em repercussões transfronteiriças decorrentes da política monetária, da atividade bancária e do comércio. É doutora em Economia pela Queen’s University.
Helge Berger é Diretor Adjunto do Departamento de Estudos do FMI. Além disso, é professor adjunto de economia monetária na Universidade Livre de Berlim. Cursou seus estudos em Munique, Alemanha, onde doutorou-se em Economia e obteve sua habilitação para lecionar. Anteriormente, deu aulas como professor convidado da cadeira John Foster Dulles na Universidade de Princeton, ajudou a coordenar a rede CESifo sediada em Munique como diretor de estudos, e foi professor titular na Universidade Livre de Berlim.